Fikções, opinadelas e cenas que tais: Battle Angel

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Battle Angel

Manga. Anime. Antes de qualquer divagação sobre o assunto que vou focar convém passar a ideia que normalmente não costumo seguir este panorama vindo de terras orientais, e porquê? Não por aversão, muito pelo contrário, simplesmente porque é demasiada a informação a absorver com muita mas mesmo muita palha à mistura e é pouco o tempo disponível para o fazer, dai que regra geral voar sobre este turbilhão criativo asiático é a maior parte das vezes uma perda de tempo útil, um dilema, enfim. No entanto não descuro e quando lembra ao diabo deito um olho aqui e ali para descobrir eventualmente por entre um mar de imbecilidades, senilidades e paranóias q.b. brutais pérolas de arte pura e dura, únicas, tanto a nível gráfico como a nível criativo. Não facilitem também amigos, acreditem, na minha opinião é quase obrigatório não o fazer, caso contrário caem na potencial asneira de passarem ao lado de coisas como esta que aqui me vou referir, regalos à vista que metem num bolso pequeno a grande maioria do que se faz por estes lados e mais a ocidente, não é à toa que de lá surgem assiduamente das melhores obras de culto feitas, pesos pesados como Appleseed, Akira, Ninja Scroll, Ghost in the Shell, Steamboy, Wonderfull Days, etc... etc... etc... e já para não falar de "TUDO" o que nos é atirado pelo meu criador de animação favorito, Hayao Miyazaki, são todos eles fenómenos que ficam para os anéis da história dos comics e animação, manga e anime.

É neste estado das coisas que um destes dias dei comigo a ser atropelado por um tesouro algures escondido - pelo menos de mim - de seu nome Battle Angel Alita, conhecido no Japão por Gunnm - literalmente Dream - série manga de um tal Yukito Kishiro. Desconhecia, apesar da coisa já ter uma vintena de anos, 1º volume de 1990. Encontrei este manga por mero acaso quando reparei que estaria nos planos de James Cameron a sua produção para o grande ecrã num futuro próximo (2011?), fiquei curioso e após um breve folhear das primeiras páginas do 1º volume dou comigo a ler o mesmo até ao fim, que maravilha, que potencial, um background fabuloso com uma fluidez de história excelente e com os seguintes volumes sempre a subir de tom, gráfica e criativamente. Battle Angel desdobra-se em 9 volumes bem recheados, cada um com bastante sumo. Descubro entretanto que dois deste volumes são extrapolados respectivamente para dois animes, óptimo! Dois OVA que dada a qualidade do manga mereciam uma dissecação pois caso fossem produzidos com a mesma qualidade seria ouro sobre azul... errado! São horríveis e não fazem jus minimamente à obra, evitem a todo o custo! Para terem ideia do interesse, adormeci sensivelmente a meio. Super resumido, histórias e caracteres misturados, deturpações, sem um mínimo de qualidade, a meu ver uma aberração! Digo mais, se visse estas duas animações antes dos mangas tinha metido logo tudo a um canto, como é possível fazerem tal obscenidade de um clássico destes!? Enfim, japonesismos para vender... como dito anteriormente, têm tanto do melhor como do mais horrível.

Vá, esqueçam o anime e voltemos ao manga que neste caso é a única coisa que interessa... meus amigos somos confrontados com um clássico sem dúvida, uma delicia: estamos algures num futuro muito distante, de inicio é irrelevante qualquer tipo de referência de localização, numa enorme cidade chamada Scrapyard que não passa de um enorme deposito de sucata e lixo de outra cidade suspensa uns bons quilómetros acima da primeira: Tiphares.


Scrapyard é uma cidade de despojos, varrida pela miséria, onde a única lei é a do mais forte e a do que melhor se adapta à sua violência sem dó nem piedade, tudo se aproveita, tudo se negoceia ou é arrebatado à força entre seus habitantes que por sua vez se resumem a uma amalgama sem fim de desgraçados, quase todos tendo algo de cibernético implantado forçosamente devido a mutilações anteriores. Opostamente a este cenário de desgraça Tiphares é um local mítico onde os habitantes de Scrapyard estão terminantemente proibidos a lá se deslocarem e apenas podem imaginar como será ou constatar que a mesma se serve de Scrapyard para seu abastecimento. Para além de servir de sua lixeira tem enormes fábricas que a cidade flutuante, através de enormes condutas ligadas directamente à mesma. O manga começa após uma curta descrição gráfica sobre esta realidade e foca-se entretanto em alguém que se desloca lentamente por entre o entulho sem fim, analisando o chão caótico de tudo o que é lixo e recolhendo partes de equipamento de alguma maneira úteis. É Ido, um cybermédico de cyborgs. Ido anda mais uns metros e surpreende-se com uma cabeça feminina de cyborg que jaz perdida, uma peça de tecnologia antiga, muito antiga. Levado pela curiosidade e excitação do raro achado leva-a para o seu laboratório e apressa-se a tentar recuperá-la, talvez mesmo efectuar a sua reconstrução pois seu cérebro parece estar intacto. Quando lhe dá vida constata que a cyborg perdeu toda a memória que tinha e dá-lhe o nome de Alita, sua gata que falecera pouco tempo antes. Já recuperada, Alita descobre eventualmente por instinto que domina uma arte marcial cyborg lendária e altamente letal chamada Panzer Kunst. O resto leiam, vejam, devorem... é sempre a subir.

Para quem gosta do género e não conhecia (como eu infelizmente), brutal, visceral, imperdível.

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