Fikções, opinadelas e cenas que tais: O nono distrito

terça-feira, 20 de outubro de 2009

O nono distrito


Finalmente consegui dar um salto até uma sala de cinema para ver se me deslumbrava com o tão bem falado District 9, já em tom de despedida. E ainda bem, ia-me contorcer no sofá quando o visse na tv e não em grande formato. Sem reservas elevo District 9 até ombrear com os melhores clássicos de culto do género, é sem dúvida o melhor filme de ficção dos últimos anos, talvez da década (esperemos pelo Avatar de Cameron). Está dito, curto e grosso; ponto, parágrafo.

E rapaziada, como o género estava a precisar de algo assim!!! Lembro-me quando à tempos atrás alguém me tinha avisado para um certo filmezeco low budget a correr no youtube de um tal Neill Blomkamp, um sul africano quase anónimo a tentar avidamente assinalar a sua presença a quem por ali passasse, e do qual vendo pontuais trechos tinha achado a ideia bastante interessante, brilhante até, apesar do resultado muito em bruto. Bem, havendo ainda muito e bom gosto neste mundo e principalmente quem afague sem pudor coisas com sério potencial eis que Peter "Rings" Jackson pega ao mesmo tempo na ideia e no talentoso realizador e produz esta jóia, desta vez com a respectiva tecnologia cinematográfica de ponta a fazer jus ao que o sumo merecia.
Impressionante como o filme debita acção, ficção cientifica pura e dura e alto stress psicológico, diria mesmo confrangedor, numa panelada de tal forma cozinhada que tudo flui naturalmente e quando um tipo dá por ela tudo de exótico que nos é atirado do ecrã parece "normal", desde os afamados bicharocos "prawns" até à alta tecnologia bélica alienígena, tudo perfeitamente banalizado no contexto, diluído num argumento que não pára, sempre em crescendo. Suberbo!



O filme bebe pormenores a outras referências cinéfilas e pontualmente a videojogos, sem qualquer pudor e de peito aberto, mas note-se, não fica envergonhado com isso muito pelo contrário, trata o assunto de uma maneira bastante saudável e renovadora, ninguém se chateando com isso. E atenção, apesar de toda a parafernália tecnológica, efeitos de top e violência gore q.b. tudo isso fica em 2º plano não caindo uma vez que seja na asneira de tornar o filme num circo, inócuo, que um qualquer blockbuster de trazer por casa faria. Obviamente que nem tudo é perfeito, nem se pedia que fosse. Pareceu-me ter algumas falhas, não imediatas nem palpáveis, apenas alguns tropeções de ritmo, nada de grave ou sequer digno de nota.

Não querendo "spoilar" nenhum futuro espectador não vou entrar em pormenores da história, apenas deixando alguns comentários que me merecem ser aqui indagados, no entanto alguns na realidade levantam algum véu sobre o que se passa em Joanesburgo, cidade onde decorre a acção, fica o aviso.

Começo pelos aliens, vulgo "prawns", algo que parece uma evolução de baratas com formato humanóide, assustadores no aspecto e repugnantes, mas é estranho quando num determinado ponto o espectador se vê com uma estranha sensação de pena dos mesmos, sendo eles as vitimas, objectos usados ou mesmo mártires se quiserem, e os humanos guiados uma vez mais pela sua natural ganância e a sempre presente fome de "poder" são por sua vez os agressores, este facto só por si é uma perfeita analogia ao apartheid não muito longínquo do qual a África do Sul emergiu (e ainda fumega) e dá uma total volta de 180º a todos os filmes com tema semelhante.

Uma nota mais para o desconhecido actor principal Sharlton Copley como Wikus Van De Merwe que desempenha um singular papel de anti-heroi de ocasião, que de "tótó" de serviço passa a carne para canhão que torce e distorce até à quase loucura, no ponto!



Rematando sublinhe-se o facto do filme no fim ficar em aberto, e de que maneira meus caros. Dando de imediato certezas de uma sequela inevitável, venha ela! As possíveis pontas soltas (uma delas rezando desde o inicio do filme) tem muito por onde se lhe pegar e foram deixadas de maneira sublime, de tal forma que não fica aquela sensação estúpida de "raios, acabou assim?!", pelo contrário, o pleno é alcançado e pede por sumo do mesmo calibre. Só peço que não o estraguem com um blockbuster hollywoodesco.

Nota final a quem não viu ainda e a quem não estava com pica de ver: um sólido 9 mais um meio pelo facto de ser quase low budget, imperdível!

Trailer HD

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